Com pouco encanto e muito espanto lá se
vai mais um dos anos deste complexo século que se inicia. O ano de 2017 ficou
marcado, não só no Brasil mas também no cenário mundial, pelo fortalecimento de rivalidades ideológicas e o enfraquecimento do estado de direito e da democracia. Um conjunto de discursos, posturas e ações, que debilita o processo de construção daquilo que chamamos de civilização. Neste ano aumentaram índices de desemprego,
exclusão social, mortalidade infantil, má nutrição, crises geopolíticas,
produção de armas, conflitos armados, poluição ambiental, instabilidades
econômicas, radicalismos sociais, corrupção e violação dos direitos humanos. Um
emaranhamento de problemas sistêmicos
que parece indicar que o mundo civilizado está ficando fora do controle daquilo que o define. Até que ponto a situação da chamada "ordem
mundial" está instável? Será que estamos mesmo à beira de um desastre
sociológico? Apesar de alguns políticos e cientistas afirmarem que a civilização evolui e sempre ficará melhor, muitas pessoas estão, como nunca estiveram, incertas sobre o
futuro. Por quê?
A tecnologia, para destacar um exemplo,
parece as vezes avançar na contramão. Com sistemas quase autônomos, como veículos militares
inteligentes (ex. Drones), os engenheiros já projetam sistemas de armas
autônomas, ou seja, armas que podem tomar a decisão de matar sem a presença ou
supervisão humana. Em outro escopo, por
mais que tentem, nem as Nações Unidas, dentre outras organizações, conseguem solucionar alguns do grandes problemas congênitos da nossa história contemporânea: crescimento dos índices de poluição ambiental, fome, rivalidade racial, intolerância religiosa e armas nucleares.
Todos esses fatos tornam a civilização um
sistema antagônico em relação à tão
pleiteada qualidade de vida que está sempre em destaque na agenda
civilizatória. Ou seja, um ambiente
detalhadamente desenvolvido mas muito perigoso para se viver, mesmo em épocas
de aparente democracia, diplomacia, produção tecnológica, avanços científicos,
euforia produtiva, financeira e globalizante.
Nesse cenário mundial conturbado, o
Brasil, como pais emergente, vivencia e potencializa alguns desses problemas conjunturais.
Em 2017 vivemos, como poucos, a maior crise política da nossa história
contemporânea. Mais retrocessos do que avanços num jogo complexo de poder onde
a nação clama por estratégias honestas e inteligentes na solução dos nossos grandes problemas: educação e cidadania, distribuição
de renda, sustentabilidade e, a tão urgente, reforma política (muito mais que as midiáticas reformas trabalhista e da previdência). Identificamos assim quatro pilares que, a meu ver, deveriam ser reconhecidos como os principais desafios a
serem enfrentados e solucionados
por um povo e um governo que ainda, de forma plena, não se fez sério.
Portanto, faço votos que, em 2018, cada
pessoa valorize a sua existência humana neste planeta e faça valer
a sua força cidadã e participativa tentando, ao máximo, praticar ações - lúcidas,
maduras, cordiais e proativas - que permitam reconhecer, valorizar e fortalecer
a prática efetiva da cidadania em pró da
soberania popular. Para tanto, será necessário participar e defender, de forma pacífica mas
vigorosa, a recuperação e a estabilização de um regime político democrático
efetivo, representado por um governo
limpo e transparente, eleito para
garantir a paz com justiça social, respeito aos direitos humanos e um
desenvolvimento econômico voltado para o bem-estar DE TODOS que
vivem no Brasil.
Reinaldo Rosa, 31/12/2017