quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Anualmente

Mais uma vez,
você é o teu melhor amigo,
frente a frente
nos espelhos das águas,
na fronte do mundo
que lhe pensa,  que lhe nutre,
lhe encanta
de tantos
sorrisos,
de tantos
encantos.

O irredutível destino
da estrela:
mais um dia, uma noite,
mais um
inigualável retorno
pra si mesma.

Isto pode levar um ano,
um século.
um milênio,
um pulsar de universo;
já não importa o tempo.
Teu dileto e contínuo segredo,
em verso,
é alcançar você.

Disponha-se, assim,
destemidamente,
do teu preferido
mais amado
e afinado instrumento.

Que a tua música
lhe faça feliz
na maior parte
do teu intento;
que ao final,
inacabado,
lhe insinuará
um novo
e quase suspeito
reconhecido
recomeço.




domingo, 20 de dezembro de 2015

A mansidão da tua pequenina e, indiscutível, perfeita alma

Se a semelhança
daquilo que se alcança
com o seu próprio pensar
ultrapassa o seu olhar...

...então já não haverá
nenhum limite,
nenhum palpite
dramático,
nem matemático,
pra calcular
o seu próximo passo.

Venha.
Se estiver fechado,
abra.
Se estiver trancado,
arrebente.
Mas não vacile,
entrementes,
entre.

Pois é pra lá daquela porta
que você pertence.

Como em uma noite escura de
grandes ondas calmas,
de chuva,
entre a costa e a ilha,
não tenha medo.
Sempre haverá, mesmo que pequeno,
um porto seguro
pra você atracar;
uma pequena e idealizada pousada
como nunca e sempre, sua alma preveu,
pra você se ler,
pra você rever,
pra você descansar.

Tudo é, enfim, descanso.
Tudo sempre será, na essencia,
mais que manso.
Pois aquilo que não o é,
não lhe sacia,
não lhe cabe,
não lhe pertence.







sábado, 5 de dezembro de 2015

Dicotomia

Quase sempre,
sempre em frente,
compreendo a importância
de saber o que ser quer.

Quero assim,
com amor, por amor,
não quero nada além
daqui, daquilo que não
seria assim se, por acaso,
não estivesse aqui em mim.

Quase sempre há a escolha:
querer isso, mesmo que
isso confronte, destitua,
anule aquilo.

Mas às vezes não há.

Duas coisas, dois momentos que se confrontam,
tão queridos, desejados,
por que tristemente abandonados estariam
sem a minha atenção,
sem o meu olhar, sem o meu coração.
O que fazer então?






segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A imensidão de te amar


Amar, tão difícil será?
A todos os credos, estilos,
almas e tempos,
de pessoas, racionais e não,
raciais e não,
não, não há perfeição
para atrair o amor
aquele que brota, que chora,
que mora,
que vem do incorporável
coração.

É o amor do amar em vão
mesmo que não me volte amor
mas que ele vá
até o fundo da nossa
imensurável imensidão;
amor inteiro
até a última nota
da persistente canção
aquela que ecoa e é bela
sem nenhuma permissão.

Se o meu amor
assim se faz,
fazer será
o que se deve,
cada vez mais,
não parar de te olhar,
não parar de te amar.







terça-feira, 20 de outubro de 2015

Amar, verbo contemplativo


O amor, antes de tudo, 
é contemplativo 
em todas as dimensões. 
Na dos olhares que se amam
ele é a própria pessoa 
que a outra contempla.




quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Esferas Esféricas



Esferas, Esferas,
Esfera.
O que dela se espera
além de girar, girar, girar.
Girar aqui, girar em si, girar por lá.

Rodopiar, partir, revolucionar.
Contornar o Sol
e depois voltar.

Como se o destino fosse
sempre a passar, sem esmorecer,
sem cessar, jamais
pensar em parar.

Pois o movimento é  vida
a preencher todo
o escuro vazio
da separação,

pois que retorna
ao ponto já conhecido
mas que agora
é quase outro,

pois que desenha
o presente e segue
esfericamente
sendo a própria mente
da desconhecida semente.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Desavisada percepção

Na releitura de um poeta
que é mais seu,
percebo que tudo,
por que não?
pode, poderia, ser um sonho,
um encanto, nada em vão,
um desafio, uma aprendizagem,
uma desmedida inspiração.

Se o universo é capaz de perceber
deve ficar, assim, em contentamento
quando aquele alguém,
que detém o dom de escrever,
escreve.

Porque é assim, quando a mágica
de transformar a vida em palavras,
se materializa sobre a finíssima aspereza
da folha branca 
daquele papel que ficou,
fora do tempo, a espera,
à deriva de um pensamento,
de uma emoção.

Haverá coisa mais digna que
gastar a tinta de uma caneta
sobre uma desesperada
folha branca de papel?

A resposta mais certa
é, por exemplo, a terna frieza
de “escrevinhar” sobre tudo e todos,
mesmo sobre um menino Jesus
que assim se encarna
na beleza mais crua
de um poema ungido
de Alberto Caeiro.

E tudo que é menino, menina
nos remete ao cerne do maior
dos mistérios que é
saber discernir entre o que é,
o que foi, o que ainda será ou seria
um momento sério, severo, ou
apenas uma inesquecível
e eterna brincadeira,
infante folia.

Quem é você diante dos seus próprios olhos?
Alguém ainda vivo?
Ou um ente fantástico
ainda nebuloso,
quase morto,
cheio de receio da vida?

Haverá coisa mais divertida
do que bagunçar os mundos
arrumados, organizados,
purificados e abençoados,
descritos nos livros da história insólita
do futuro em formação?

Não! É esta uma divina heresia
que as palavras escondem
sob as suas corpóreas letras,
semânticas e sintaxes,
sem mencionar que ali
sempre existirá, enfim findará,
uma irresoluta alma, 
um emocionado coração.

Por isso, tudo que se escreve
ao dom das ondas dos ares
da estratosfera da razão
é digno da nossa mais
sintonizada atenção,
do nosso maior e indestrutível,
irreparável e inesquecível amor.

Por isso, flutuam no ar,
pensamentos ainda não escritos,
ainda não ditos,
que para sempre
ficarão subentendidos,
por este universo,
jamais percebidos.



sábado, 4 de julho de 2015

Uma nova dimensão

Recentemente um amigo me perguntou:
Como é ser pai pela primeira vez?
Díficil descrever, assim, de forma feita,
racionalmente explicada.
Mas encontrei uma resposta
que veio direto do coração.

É como perceber um
novo portal, um novo canal, de sensibilidade.
Penetrar em uma nova dimensão
que só quem é pai ou mãe
é capaz de experimentar.

Agora quando me encontro
em lugares com muitas pessoas adultas,
experimento a dimensão extra
que me faz percebê-las,
cada uma delas,
como um ser humano
que já foi um bebê,
merecedor do mesmo tipo de
cuidado, ternura e amor
que agora dedico
todos os dias e todas as noites
ao meu precioso e querido
primeiro filho.

Assim, como já disse antes,
a solidão, nessa rede complexa
de pais e filhos devidamente amados,
é apenas uma ilusão.

E toda essa novidade
é ainda mais
intensamente viva
quando vivemos com a mãe
uma linda e sincera
história de amor.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

1/Entropia


Chego aos 48 anos reprogramados,
sempre agora, me distanciando dos 50.

Essa, com muito amor e humor,
é a minha nova charada pra você.
Não tão difícil, pois é quase pura matemática.
Vamos nessa?

Vou ao encontro de um menino
que sempre esteve aqui.
Me esperando.
É assim que a vida começa a fazer sentido.
Um sentido contrário,
repleto de cores, de pipas,
sabores,
odores de terra molhada, de plantas,
de luzes,
o primeiro arco-íris,
e tantas outras surpresas...
...presentes inesquecíveis
da mãe natureza.

Meus pés sobre a terra
são também minhas mãos
sobre as frutas maduras
a serem colhidas
diretamente dos pés
que nos sustentam.

Quantas luas e estrelas no céu,
repleto de sonhos da noite,
nas madrugadas silenciosas
e mornas do interior,
da casa, do quintal,
da rua de paralelepípedos.

Sonhos que vem e que vão
e que se transformam
em brincadeiras e desafios
que já se tornaram
inesquecíveis pelas manhãs.

Feliz não é o aniversário,
mas o coração que vai continuar
batendo por mais um ano contrário.
- se Deus quiser -
que a expansão acelerada
continue a esticar esse
imenso balão de espaço-tempo
salpicado de estrelas
e olhares ingênuos
que nada explicam
e tudo contemplam.


https://www.youtube.com/watch?v=-oMHME8XmtE

sexta-feira, 29 de maio de 2015

A boca da alma

Você
você de novo
não sei
mas sempre serei
seu eterno desejo
quando te vejo
quero um beijo
esse pedaço teu
que é a boca
mais que isso
te quero inteiro
pra todos os meus beijos
além das roupas, da pele,
da boca,
da alma.



domingo, 8 de março de 2015

Yeux à l'infini

Se todas as mulheres do mundo
num só olhar
olhassem para o infinito
o infinito existiria;

Assim nossa jornada
por certo
não seria,
não teria
um extremo, um final;
e a eternidade,
entre todos os desejos do mundo,
sem bordas, sem demora,
nos envolveria,
nos bastaria.

E num só olhar,
inúmera fissura,
uma só mulher seria.




domingo, 8 de fevereiro de 2015

Ele

Um sonho lúcido,
uma esperança real,
um desejo de tudo que é bom,
chegando sem parar,
invadindo todos os meus
pensamentos,
aqueles todos infalíveis
sentimentos,
aqueles
que já são quase todos seus,
todos nossos:
Você, ele e eu.

No seu olhar, no seu sorriso,
no seu corpo tão lindo,
tudo é paz, tudo é um novo caminho
colorido, florido,
vibrante e intensamente
vivo.