sábado, 28 de dezembro de 2019

Dezembro



O derradeiro passo do ano.
Passo largo do último mês.
Paragem de memórias.
De onde amadurecem
sempre
atemporal e fanático
dulçor de lembranças.

Tertúlias densas
das quais ainda se sente
aromas, sons dos sorrisos
e alegrias banais,
mas abismais,
entre abraços raros,
colossais.

Campo aberto,
chuvas que caem
de nuvens densas
sobre aquelas estradas
que (ainda) longe
irão tão perto.

Mãos dadas, 
mesma trilha
de ida e de volta,
para a mesma casa,
mesma morada
de dois corações
enlaçados.

Ao longe ouço
seus sonhos
de alguma forma
tímidos, contidos,
opacos, silenciosos,
mas que, eternamente,
são meus.

E tudo, 
até  aqui novamente,
sem lembranças,
sem mistérios,
recomeça no ano
que chamamos de novo
e que segue em si.


https://www.youtube.com/watch?v=kSThrKGn9EU



sábado, 13 de julho de 2019

In "vitra" reta viva

Como qualquer caminho
se vai
ao seu destino local, incerto.
Clamo!
Obsoleta linha no tempo,
não, agora não,
não vá embora.

A mão de ficar é minha.
Esperar. E (te) desesperar.
Não há pressa maior,
prerrogativa em vitro,
imenso vácuo, vazio
do meu
mais agudo grito.

Só há a entender
as infinitas metas
desta incompleta,
reverberável,
incutida
e encurvada reta.

Perfura-se o seu fundo
mais profundo
com letras duras,
metametais que não são,
senão em vão,
essências dalí.

Onírico não,
infundado, pontuado,
geometricamente frio,
tracejado de nadas
sobre nenhum papel,
sentimentos sem chão.

E o que sonhar então
no coração?
Coragem em linha reta.
Salto infinito sem queda,
suave aresta
de uma palavra
desconhecida,
perdida por lá, nas pontas:
Findar.

Findar, findar,
sem fim, assim,
ser e estar,
por todos os lados
da reta,
da sua alma,
da sua mínima estrutura,

vertebra de todos os sonhos,

desalinhadamente amada,
descaminhada dos nossos passos,
em falso, espuma de traços,
tão fora do tempo.



https://www.youtube.com/watch?v=YJ1iaNHEjFU


sexta-feira, 12 de abril de 2019

Pupilles de Feu

Os olhos se abrem
porém, tão belos não sabem 
que não podem
parar de escrever
poemas só de olhares.

Breve!
Se sabe,
que não há nenhum lugar a chegar
para se admirar para sempre. 
Escrever. Pausar. Ficar.
Morrer um pouco.
Eclodir,  apagar-se.

Não!
Se sabe,
que paraíso é apenas uma escolha
que temos que fazer todos os dias,
a cada momento.
Nascer um pouco.
Entreabrir,  cintilar-se.

Sempre.
Se sabe,
que há quem se veja 
fora do lugar 
durante toda a sua vida.

Se há um outro olhar assim
deveras permeiam-se
de uma forma
que nem um outro
olhar em vão 
conseguirá.

Capta-se assim bem lá no fundo,
a ambivalência mutante,
do que há de mais profundo
lá, no inimaginável:

sua queima lenta no tempo.