sábado, 10 de março de 2018

O sermão das relações



Enfim um encontro,
um confronto (?),
dois ou mais pontos
de reações
e expectativas cativas,
nesse tecido de emoções,
estímulos,
disfarçados olhares,
e quase insensatas perguntas
que ficarão ainda,
mais uma vez,
sem respostas.

Necessária então,
no seu âmago,
a ousada reflexão.
Aquela protetora emoção
que ativa o pensar antes do agir.
Que projeta este,
onde está o outro.
Cuidando assim dos corações
que estão nas pontas.

Um poderoso exercício de acesso
ao diminuto
e soberano filtro
que em nossa alma 
pulsa, soluça, habita.

Necessidade há de passar.
A humanidade em si
lucidará ao iniciar
doce ou amargo
encontro
que ali já não está.

Porque não há mais
uma estrada,
nem uma jornada
mesma, plena e plana.
Trata-se pois de uma escalada,
um desafio impositivo
das mais gigantescas
e assustadoras
montanhas.

Só as escalam
os que estão dispostos
a contemplar
sua essência
até atingir aquela
coisa, frescor
que não lhe pertence
mas sempre estará no cume:

A totalidade, o sonho imenso
que sintetiza
tudo aquilo
de certo, e mais belo
que a imaginação,
de todos 

que se entreolham 
e se  sentem ali
na suposta dor  
e no suposto amor,
já sabe que lá está
e que de lá 

domingo, 4 de março de 2018

Sobre a crítica da fé religiosa


Já está assim recorrentemente posto.
Mas, pelo valor da argumentação,
eu argumentaria que:

Importante seria,
na construção do pensamento
e do seu discurso crítico,
que o filósofo considerasse 
a possibilidade
de haver uma fé, em si, causal.

É necessário perceber 

que poderia haver de fato
pessoas que,
desapegadas da condição
da vida após a morte,
necessitariam exercitar,
francamente e
em liberdade,
a sua fé.

E talvez não fosse
tão surpreendente
perceber pessoas
que nesse exercício
encontrariam, em sã consciência,
paz, harmonia,
satisfação e encantamento...

...enquanto outras,
mesmo que tentassem,
encontriam apenas
conflito, contradição, insatisfação,
dúvidas ou, apenas,
um inexpressivo e infinito
vazio.

Ainda não se saberia
quais seriam as causas
antropológicas, sociais
e culturais,
que resultariam
neste antagonismo aparente:
com e sem fé religiosa.

Mas constataríamos
que as do primeiro tipo
talvez fossem pessoas,
na sua maioria,
apaixonadas pelo céu verdadeiro.
Sensíveis à percepção e ao conhecimento
do Universo cósmico, onde nascem,
evoluem e morrem,
planetas, estrelas, galáxias
e o próprio espaço-tempo.

Assim sendo conscientes testemunhas
da sua inexorável imensidão,
beleza, complexidade e mistério.

Isso eu chamaria de religiosidade.
Algo que me parece,
quando associado
à ética e à estética,
muto mais próximo da arte,
do que da religião.

No mundo retórico
da eloqüência, da lógica,
do pensamento estritamente
idealista e racional,
seriam pessoas, em geral,
silenciosas,
as vezes,
retraídas,
destituidas da arrogância,
quase excluídas.
A não ser pela sinceridade
marcante e apaixonante
do seu sorriso, seu olhar,
sua bondade.

Do seu altruísmo e generosidade,
autênticos e efetivos,
incondicionais,
sem fins lucrativos.

Não tenho dúvidas
que este mundo acabaria
quando pessoas assim
deixassem de existir.