sexta-feira, 29 de abril de 2016

Rastro No 6

Como se tudo isso fosse para mim.
A obra, a arte, a sua sorte.
Sua razão.
Aquela que sempre exige
a calma do olhar prolongado,
a acuidade da contemplação.

Como se tudo isso fosse para mim.
Um feixe apertado de luz,
de grito, de respiração.
Minha emoção.
Um fluxo de escuro quase invisível.
Um silêncio de alta definição.

E então, nunca em vão,
em sagrada lentidão,
uma densa e facial
realidade
a percorrer, a sulcar,
escorrer, evaporar
marcando, assinando,
o indissolúvel rastro
do meu assustado,
renitente, cativo,
seja lá como for,
eternamente encantado,
eterno amor.






segunda-feira, 18 de abril de 2016

"Nous sommes nos choix" j-p.s



Hoje não há nenhum encanto por aqui.
Mas há uma constatação.
querendo ou não,
quebrante,
e que flama,
ilumina, reclama.

Assistir à votação em alto e bom som
foi um exercício fantástico,
educativo, exaustivo,
provocador.

E que nos ajuda a confirmar aquilo que já sabemos: 
a política daqui (e talvez dali, de lá)  é a aquela onde prepondera
a demagogia cativa e seus prisioneiros vitalícios:
os moralistas tortos, conservadores ensossos,
espiões cegos de si mesmos.

A maioria dos "nossos" representantes, de fato, 
merece aquilo que a sua maioria deseja: 
devassos quase perfeitos. Poder pelo poder.
Maestros do condão, do arbítrio e da hipocrisia. 

No final das contas, estou aliviado e, de certa forma, feliz 
por não me ver representado e não compactuar 
com esses que somaram 367 votos 
em nome das suas "felizes famílias",
 "latifúndios", "municípios e estados", 
"empresas", "bancos" e "divino salvador". 

Mas, parabéns então meus caros e pobres neoliberais
que não se envergonham do seu retrocesso, 
do discurso fácil, sem compromisso além,
construído para dominar as facções moralistas, 
que aparentam honestidade sempre com segundos objetivos, 
e controlam as crenças e paixões populares 
com vista somente ao enriquecimento e poder político. 

Aproveitem e exorcizem os seus demônios até o Sol raiar, 
pois o baile de máscaras só está começando.





domingo, 10 de abril de 2016

De Cunha e Para Ti

Rastro No 1

Surpreendentemente
ao invés de um anjo
uma serpente?
Ou apenas uma alma ordinária,
trazendo nas mãos uma
surpreendente delação,
suposição enigmática,
pretensa ilusão?

Rastro No 2

Recuo, delírio, ataque.
Como brasa nas mãos,
a ofensa, a solidão.
Qual a verdadeira,
inexorável, paradoxal
e vazia razão?
Haveria explicação?

Rastro No 3

"Cobrar" o outro
diante de um aparato (espelho?)
que não se vê,
é lá, parece ser,
quase o desespero,
e é aqui, assim será,
quase o silêncio.

Rastro No 4

Se queres pensar, pense.
Se queres amar, ame.
Se queres andar, levanta-te.
Práticas jamais delegadas.
De fato, o faça através daquele
já esquecido, enfraquecido
mas que ainda pulsa
e habita em teu peito.
Assim, talvez, tanto os sorrisos
como todas as lágrimas
serão transformadores
e, talvez, lhe tragam aquele deslumbramento
tão sonhado, tão necessário,
a partir do patamar
das suas próprias pernas,
bem acima da superfície
do teu antigo terreno.


Rastro No 5

Afinal, quem desenha a felicidade?
E quais são as suas cores?
O vermelho
que expressa
a densidade
da presa
ou o rosa
que expressa
o perfume do tempo?