sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Réveillon

Com pouco encanto e muito espanto lá se vai mais um dos anos deste complexo século que se inicia. O ano de 2017 ficou marcado, não só no Brasil mas também no cenário mundial, pelo fortalecimento de rivalidades ideológicas e o enfraquecimento do estado de direito e da democracia. Um conjunto de discursos, posturas e ações, que debilita o processo de construção daquilo que chamamos de civilização. Neste ano aumentaram índices de desemprego, exclusão social, mortalidade infantil, má nutrição, crises geopolíticas, produção de armas, conflitos armados, poluição ambiental, instabilidades econômicas, radicalismos sociais, corrupção e violação dos direitos humanos. Um emaranhamento de problemas sistêmicos  que parece indicar que o mundo civilizado está ficando fora do controle daquilo que o define. Até que ponto a situação da chamada "ordem mundial" está instável? Será que estamos mesmo à beira de um desastre sociológico? Apesar de alguns políticos e cientistas afirmarem que a civilização evolui e sempre ficará melhor, muitas pessoas estão, como nunca estiveram, incertas sobre o futuro. Por quê?

A tecnologia, para destacar um exemplo, parece as vezes avançar na contramão. Com sistemas quase  autônomos, como veículos militares inteligentes (ex. Drones), os engenheiros já projetam sistemas de armas autônomas, ou seja, armas que podem tomar a decisão de matar sem a presença ou supervisão humana.   Em outro escopo, por mais que tentem, nem as Nações Unidas, dentre outras organizações, conseguem solucionar alguns do grandes problemas congênitos da nossa história contemporânea: crescimento dos índices de poluição ambiental, fome, rivalidade racial, intolerância religiosa e armas nucleares.

Todos esses fatos tornam a civilização um sistema antagônico  em relação à tão pleiteada qualidade de vida que está sempre em destaque na agenda civilizatória.  Ou seja, um ambiente detalhadamente desenvolvido mas muito perigoso para se viver, mesmo em épocas de aparente democracia, diplomacia, produção tecnológica, avanços científicos, euforia produtiva, financeira e globalizante. 

Nesse cenário mundial conturbado, o Brasil, como pais emergente, vivencia e potencializa alguns desses problemas conjunturais. Em 2017 vivemos, como poucos, a maior crise política da nossa história contemporânea. Mais retrocessos do que avanços num jogo complexo de poder onde a nação clama por estratégias honestas e inteligentes na solução dos nossos  grandes problemas:  educação e cidadania, distribuição de renda,  sustentabilidade e, a tão urgente, reforma política (muito mais que as midiáticas reformas trabalhista e da previdência).  Identificamos assim quatro pilares que, a meu ver, deveriam ser reconhecidos como os principais  desafios a serem enfrentados e solucionados  por um povo e um governo que ainda, de forma plena, não se fez sério.

Portanto, faço votos que, em 2018, cada pessoa valorize a sua existência humana neste planeta e faça valer  a sua força cidadã e participativa tentando, ao máximo, praticar ações - lúcidas, maduras, cordiais e proativas - que permitam reconhecer, valorizar e fortalecer a prática efetiva da cidadania  em pró da soberania popular. Para tanto, será necessário participar e defender, de forma pacífica mas vigorosa, a recuperação e a estabilização de um regime político democrático efetivo,  representado por um governo limpo e transparente,  eleito para garantir a paz com justiça social, respeito aos direitos humanos e um desenvolvimento econômico voltado para o bem-estar DE TODOS que vivem no Brasil.

Se assim for, acredito, Feliz Ano Novo! Caso contrario, só nos resta esperar alguma felicidade, muito menos relevante, durante a incerta Copa da Rússia. 

Reinaldo Rosa, 31/12/2017




terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Até lá

Afago, mesmo assim,
nefasta selva de poder.

Não vamos correr,
não vamos morrer,
sem sangrar amor.

Há de vingar
a razão de chegar
até lá
só para sorrir.

Levando a criança,
pelas mãos,
em absoluta e astuta
harmonia.

Instruindo
como chegar lá
sem da paz desistir.
Resistindo ao fio de rancor
na contra-mão.

Aprendendo a
impor limites
com ternura.

Puro dulçor
brotando
como força
avassaladora
contra
este mal
que já,
de susto,
se auto-aniquilou.



https://www.youtube.com/watch?v=8DSeZji2x-Y


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Berlim

Vamos mais uma vez,
centro do meu corpo,
não duvide da tua existência.

Essa que flutua,
determina tua sina,
e enruga o tal tecido
do espaço com o tempo.

Escala a tua
própria colina,
coluna ereta
de história,
minha memória,
minha cabeça.

Membro que se
parece com ela, a alma.
Exalta logo algo, fogo,
branco, sincero, vago.

Olho em você.
Você se vê
de cima assim.
Uma casa,
uma sombra,
um quintal.

Sigo sua boca,
silhueta dela,
pelo palato.
Olhos baixos.
Mãos cerradas.
Cabelos
estes que são seus,
ao sopro morno do vento.

Eis que não chegamos
nessa cidade.
Agora é só aqui.
Você mais uma vez
morrendo em mim.

Céu azul no fundo.
Se lembra?
Nada tão longe.
É mesmo você
renascendo
do alto
como aquela cor
livre das tempestades.




https://www.youtube.com/watch?v=a66Zm7sy6Mg





domingo, 12 de novembro de 2017

Manifesto que vem dos sonhos

Felicidades

Feliz seria
se de você
eu fizesse
a felicidade
toda.

E ecoariam,
pelo seu céu,
meu caminho,
sonoros olhares
das felicidades.

Saudades

Mas o que afaga
e me confunde,
é a saudade
do final
ao começo.

E ela
só não é
insuportável
porque os sonhos
persistem.







sábado, 23 de setembro de 2017

A reforma que não é política

Só a poesia
nos salvaria
da selvageria
que brota
da falta
da verdadeira alma
nos corações
dos homens.

Ao desprezá-la
se mente
a si, de si
se destitui
de tudo
a verdade.
A estrada
mais segura
e justa
para o nosso
verdadeiro ofício:
a amizade,
o sincero sorriso.

Com ela
nenhum olhar
se desvia
enquanto
a boca fala.
Nada por perto
correto
se dissimula.
Se confia.

A mentira não vence
a mente mansa
não cansa
não se entrega
àquele desejo
que já nasce morto
se de traição.

Na face,
na fala,
nos gestos,
nas intenções,
na raiz que te sustenta,
é a beleza
do mais
puro e singelo
verso
que sobre todos
brilharia.




terça-feira, 1 de agosto de 2017

vue

Meia luz.
Um quarto.
Um ponto
perfeito
no canto
mais escuro.

Descubro
um furo
perfeito
no silêncio
da sombra.


Fatias de sombra.
Mãos apertadas.
Entrelaçadas
por fora do tempo.

Um cone.
Uma geometria.
Com ou sem forma,
Nada disso importa.

Tudo está sobre a linha.
A linha.
Alinha a tua mirada.
Mira no ponto
naquele canto
mais escuro,
do furo
da sombra,
perfeito.



https://www.youtube.com/watch?v=dTW2MxfqVLI&t=18s

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Quem tem a posse de todos?

A minha leitura
desta poesia
que é sua
desmistificadamente lida,
relida, polida,
pela nossa recorrente leitura
satura a minha determinação
de ser um poeta morto
que seria só seu.

Reage, refaz,
reedita a escrita,
para compor
o esplendor
do verso em luz
que cega
o meu querer
escrever
só para um,
só para você.

Acabando-se
naquele
que se parece
único,
inicia-se
noutro
que se parece
de todos.


https://www.youtube.com/watch?v=RCMXO9sBIcU

https://www.youtube.com/watch?v=8DSeZji2x-Y


sábado, 10 de junho de 2017

A Desenhista

Invente o seu tempo.
Tente, frente a frente.
Além das aparencias
e dos fatos aparentes,
enfrente,
sempre em frente.
Sorrindo, cantando, desejando
interminavelmente.
Desenhe, desenhe, desenhe,
por que não,
o amor presente.
Que ele te sustente,
sua coluna, punho,
suas idéias,
seus olhares,
em todos os lugares,
em todos os tempos.
                                                                                                             para Monimax.










sexta-feira, 9 de junho de 2017

Poema injustificado

                   São, são cantos, são quatro cantos santos.

   Daqui até ali, ponto a pena e risca.
                       
Piso não, teto não, pisca pisca só aqui.

Siriri, jabuti, drogas alucinógenas.

                    Fim de prosa até acabar.

  Nada segura, nada sustenta, esse fino não físico fio.

                    Bola aqui não tem corpo.

                                          Acabando a rota reta, está na testa
                                          da textura que te fascina,
                                          facínora destas linhas
        que poderiam
        estar vazias,
                             frias sem os riscos,
                             inacabadas sem os cantos,
                mortas sem as pontas.




                     

Suna, Som e Suna

Semear, pois não seria,
a mais ruidosa cantoria
entre mundos mudos
sem silêncio,
fadada incoerência,
sem mais nada a delatar
na falácia que é a noite
sem estrelas, sem lua,
sem as luzes quase escuras
sobre os morros,
sobre as ruas,
das janelas e dos quartos,
sem sussurros,
sem madrugadas,
sem mais nada...


...sem aquela presença sem vestes,
sem as minhas, sem as suas,
sem as nossas inconfundíveis
sarracenas mulheres nuas.






segunda-feira, 15 de maio de 2017

A cura das janelas de lá

Olho para o castiçal
no beiral da ventana.
Aqui já não é o Brasil,
é a Espanha.

Surrealismo no silêncio
que nos cura
dos tóxicos sociais
deste dia,
infernais parasitas
da nossa
mais imprecisa
razão.

Que horas são?
Que horas marcam
esses ponteiros
improváveis
em derretimento?

Não, não é o tempo.
Talvez o talento
de não ser um evento
entre as quase indecifráveis
cores e  matizes
da abstrata Catalunha.

Minha alcunha:  Quase o Vazio.





quinta-feira, 11 de maio de 2017

Flutuações entre o bem e o mal


Dias das éticas que vão e voltam

tecendo a teia sinuosa dos traumas

de todas as almas, 

aqui e ali,

mal acabadas.

Seriam elas 

fantasmas

então malfadados,

luzes assustadas, quase morrendo, que já não vemos?

Então, sim e não,

nos surpreendemos a nós mesmos

como cegos incrédulos,

patinantes sobre a neve escura,

sonâmbulos vândalos 

do fim deste mundo.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Gravidade

Correndo
da esquerda
para a direita
dizia
ROMA, ROMA, ROMA...

...voltando
dizia
AMOR, AMOR, AMOR...

Às vezes,
parava e saltava
dizendo,
quando subia,
UÉC, UÉC, UÉC...

...e quando descia
CËU, CÉU, CÉU.

Quase todos que o viam,
rindo, e com gravidade.
julgavam-lhe um louco.

Menos os SOCUÓIS,
que sorrindo
corriam sempre
da direita para a esquerda
e deitavam no chão...

...para então,
com alguma emoção,
beijar a Terra
e
procurar estrelas.